Orçamento doméstico: dá pra amar?
Quando me mudei para o Rio de Janeiro aos 22 anos para trabalhar num escritório de engenharia, além da distância dos meus familiares na Bahia, me apavorava a ideia de não conseguir fazer o correto balanço de finanças domésticas e falhar miseravelmente na tentativa de subsistir sozinho na cidade grande. É curioso um recém formado em engenharia, treinado durantes anos a manipular derivadas e integrais, se assustar com algo que só depende de aritmética básica.
Esse talvez tenha sido meu primeiro grande insight sobre como o currículo escolar tradicional se omite em questões práticas fundamentais da vida adulta. Economia doméstica, tarifas e impostos (incluindo o de renda), cozinha, reparos básicos de uma residência e etc., se incluídos na formação da criança e do adolescente, poderiam ajudar a formar adultos mais instrumentalizados e ciosos de seus deveres e direitos de cidadão.
Na minha escola, pelo menos, não fui exposto a esses conceitos básicos. Tampouco na minha casa. Então tive que aprender no modo tentativa e erro mesmo, reparando o bonde enquanto andava (ou às vezes descarrilava). Demorou um pouco até eu entender como calcular quanto custava de fato para eu me manter versus meus rendimentos, tendo a minha lista de desejos financiáveis entrando de sola nessa conta de somar para depois subtrair.
A bem da verdade esse é um processo contínuo, que é corrigido e se aperfeiçoa para acomodar as demandas do novo ser que nos tornamos a cada dia. Escrevo esse texto porque nesse momento ando às voltas com a temática aqui em casa, revisando, classificando e priorizando cada despesa doméstica, confrontando o balanço obtido com o que entra de receita mensal e traçando metas conjuntas com Thiago para atingir objetivos concretos e também os abstratos que, ainda que questionemos a lógica do sistema, precisam ser financiados.
Passado o choque inicial quando se vê no papel todos os custos que assumimos para viver, vem uma sensação de autorresponsabilidade financeira que beira o delírio de saber exatamente o que se está fazendo com a vida (spoiler: não saberemos nunca na verdade, mas trabalhamos aqui com a redução de danos). Alivia muitas tensões saber se dá ou não pra ir nesse mês àquele restaurante mais caro ou quando poderemos comprar aquela Smart TV sem ficar indagando se há uma corda com laço prontinho nos fitando da esquina.
Eu pelo menos gosto de ter esse horizonte à minha frente traçado dentro de possibilidades tangíveis de acordo com minha realidade particular. Faz bem à minha necessidade ariana de assumir o controle ao mesmo tempo em que doma a minha tendência, também ariana, de me lançar no impulso de viver pra caramba hoje.
Eu aprendi um truque para solucionar esse conflito de interesses aparentemente incontornável no meu mapa astral e o batizei com um título autoexplicativo: pequenos mimos no presente para presentes maiores no futuro. É como passar intermináveis horas num carro a caminho de um destino incrível e se cercar de pequenos docinhos e preparar uma playlist divertida para aplacar a ansiedade no trajeto. Ao chegar ao maravilhoso ponto de chegada, ver que a espera valeu a pena.
Um pouquinho de autoindulgência hoje para maiores conquistas amanhã é o mantra a que tenho me apegado para encontrar júbilo no presente sendo responsável com o futuro. Recomendo a todos 🙂
Imagem: Crying Girl wipes tears by money de Artem Avetisyan