A mãe e a filha

Quando minha irmã me ligou pra dar a notícia de que estava esperando um bebê e eu não consegui decifrar pela sua voz se ela estava felicíssima, apavorada ou as duas coisas, senti o impacto de um recomeço. Sabia que a partir dali a vida dela não seria a mesma e que, por tabela, a minha e a do restante da nossa família também não. É impressionante a força que tem os eventos que mais nos aproximam da vida (nascimento) e do seu oposto complementar (morte) no sentido de recalibragem dos nossos eixos. É como se imediatamente nos tornássemos cientes da razão fundamental de estarmos aqui e ressignificássemos prioridades.

À medida que, ainda geograficamente distante, ia acompanhando a evolução da gestação de Grazi, ficava maravilhado ao ver que aquela pessoa que cresceu comigo no interior da Bahia, que eu vi e me viu trocando os dentes de leite, chorando de febre e calafrios, se metendo em rusgas infantis de meninos x meninas, estava agora no âmago da vida, imbuída da amorosa responsabilidade de ceder seu corpo e sua alma para a formação de outra pessoa.

E foi um dia 4 de julho, dia em que comemorava seu próprio nascimento, que Júlia nasceu a partir da minha irmã, fazendo-a renascer para este mundo. Impossível não ser místico depois dessa conjunção de eventos.

O nascimento de Júlia causou uma revolução em mim, na pessoa que eu quero ser para o mundo. Eu não precisava de nenhuma outra razão além do fato de ser seu tio para amá-la profundamente. Acontece que ela foi além e ajudou todos os adultos que a cercam a liberarem seus sentimentos de afeto e doçura sem medo do ridículo. Todo mundo que a cerca é, hoje, mais maduro, mais emocionalmente seguro, se leva menos a sério e é mais feliz.

E eu, que sempre amei a minha irmã, mesmo quando brigávamos feito cão e gato na infância, vi esse amor finalmente transbordar para além de mim; um amor por elas como indivíduos, mas também pela espécie humana, pela generosidade da nossa Mãe Natureza que nos gera e deposita em nossos corações o desejo de alimentar, cuidar e honrar a vida preciosa do outro.

Por esse amor que sinto por elas e por este AMOR que nos une a todos, eu celebro hoje e sempre! <3

Adonis Carvalho

Escrevo uns rabiscos desde que me lancei na aventura de procurar me entender neste mundo, prática que me fez sobreviver aos intervalos tediosos das aulas de Cálculo na Faculdade de Engenharia. Vi toda minha vida se transformar desde que decidi dar o primeiro tímido passo rumo a uma dieta alimentar saudável. Meu interesse pela culinária natural é uma reação aos sustos que tomava quando passei a ler com atenção os rótulos dos ultra processados multicoloridos dos supermercados. Acredito na força e na beleza da vida e amo profunda e verdadeiramente este planeta Terra.

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